5 competências para uma organização fluente em dados

Quando surgiram as redes sociais, falávamos que transformação digital não era apenas abrir uma conta no facebook, mas sim incorporar uma cultura conectada, de atuação e engajamento em rede. Da mesma maneira é com a cultura data-driven: ser orientado por dados não é apenas coletar e armazenar dados e vai muito além disso. E é sobre isso que vou escrever aqui.

Em 2016, quando planejávamos dentro do Social Good Brasil que em 2017 seríamos uma organização orientada por dados, fui atrás de descobrir quais são as competências organizacionais para desenvolver essas habilidades. Afinal, buscava entender o que significava ser fluente em dados, porque toda nova tecnologia precisa dessa capacitação e, uma vez fluente nela, vem acompanhada de uma capacidade de absorção dessa inteligência.

E aí, os aprendizados começaram e o tempo foi passando. Depois de quase 2 anos, atuamos com fluência em dados dentro de organizações, sendo de todos os setores: ONGs, negócios sociais, empresas, institutos e fundações, e agora em Governo. Após todas essas experiência, chegamos em 5 competências principais necessárias para uma organização que busca trabalhar com dados:


1. Incorporar uma cultura analítica. Aderir a um novo modelo mental em que se deixa de tomar decisões pautadas em percepção pessoal para tomar decisões com base  em evidências e insights (ideias, percepções, conclusões) que os dados geraram. Esta é uma mudança significativa nas organizações maiores e  mais antigas, já que muitas vezes envolve os egos das lideranças que costumam ser as pessoas que mais são acionadas para uma tomada de decisão. O convite a ser feito ao líder é de se  voltar para sua equipe com uma pergunta: quais dados podem nos ajudar a tomar esta decisão?

2. Ter processos decisórios orientados por dados e propósito. O foco do SGB é o uso de dados para gerar mais impacto social positivo. E o primeiro passo para qualquer organização é ter clareza e alinhamento interno do seu propósito, do impacto que deseja gerar, para só então decidir e filtrar quais dados são de fato necessários, além de perceber quais dados estão sobrando e sobrecarregando o dia-a-dia. Ter este nível de clareza e transformar isso em processo é vital para que a mentalidade analítica se torne parte da organização e não apenas um conceito na cabeça de uma pessoa da equipe. É a competência fundamental que deflagra todo o processo seguinte.

3. Ter uma coleta de dados efetiva. Depois do entendimento de quais dados minha organização precisa, é fundamental conseguir coletar esses dados, o que pode ser desafiador. O desafio, por exemplo, pode ser em engajar quem eu preciso que me forneça os dados, pode ser em garantir a veracidade dos dados e, agora com a nova LGPD, garantir a transparência neste processo.

4. A capacidade de análise de dados é a competência que vemos mais campo para desenvolvimento. Hoje, muitas organizações conseguem coletar e armazenar mas não necessariamente fazem análises com dados, e as que fazem também apontam um longo caminho de sofisticação. Nós aprendemos nesta história de quase 2 anos que é possível evoluir muito na análise dos dados, começando de uma leitura mais descritiva, que fazemos em relatórios de resultados; partindo para um diagnóstico que nos detalha relação de causa e efeito; evoluindo para uma análise preditiva, isto é, que antecipa “o futuro”, o que pode acontecer e nos recomenda a ação a ser tomada. É nesse estágio que dados se conectam a inteligência artificial.

5. O engajamento por narrativas de dados. Ponto fundamental para garantir engajamento de público interno e externo em um projeto de impacto social é comunicar os dados de forma poderosa. Dados que podem mudar o rumo do projeto e do planejamento de uma organização. 


Não há um mapeamento sobre o nível de competências analíticas em organizações, mas por todas as conversas já realizadas nessa trajetória do SGB em se tornar data-driven, sabemos que não há homogeneidade neste tema. É um assunto de fronteira e, por isso, são poucas as organizações preparadas e bem desenvolvidas nesta temática. 

Por outro lado, acompanhamos inúmeras organizações com foco social que têm um cuidado gigantesco por coletar dados que as ajudam a comprovar seu real impacto, e uma grande visão institucional de onde querem chegar. Este conjunto de dados é um universo muito rico e queremos ajudar nesse movimento para existir ainda mais impacto com dados antes não coletados ou análises antes não feitas, permitindo que mais e mais investimentos sociais e ambientais, além de que políticas públicas cheguem onde não chegavam. E, principalmente, que pessoas que antes não eram vistas, passem a ser vistas com a ajuda dos dados. Queremos o fim do achismo e da invisibilidade de grupos; queremos que seus dados sejam considerados. Afinal, eles marcam a nossa existência: dados não são só números, são pessoas. 

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