“Dados abertos podem salvar vidas”. A frase que estampou a primeira página do site do painel Transparência Covid-19, atualizado entre fevereiro e junho deste ano, traduz aquilo que por aqui a gente já sabia: tecnologia e dados são capazes de causar um impacto social gigante. O portal é aberto em um momento emblemático de nossos tempos: em 2020, máscaras e álcool em gel se tornaram parte do vocabulário e da vida de todo mundo. A pandemia estampou não só nossa fragilidade enquanto sociedade e seres humanos, mostrou também a urgência de aprender a lidar – com informações, com tecnologias e, acima de tudo, com pessoas.
Apresentamos aqui 7 cases que, assim como o Transparência Covid-19, usam a tecnologia e os dados para gerar impacto social.
Mas antes, como tecnologias e dados são usados para causar impacto, na prática?
Imagine a campanha de vacinação contra a Covid-19. Em muitos estados e municípios, postos de vacinação têm de lidar com erros na quantidade de doses: se em defasagem ou em demasia, os erros de contagem – e consequente atraso nos processos de imunização – são, por vezes, causados pela falta de informação sobre a população local – como faixa etária, comorbidades e profissão. Sem uma pesquisa recente e completa, políticas públicas carecem de dados que possam guiar as escolhas e distribuições.
Assim como para políticas públicas, ter disponíveis dados e a tecnologia necessária pode impactar positivamente diversos setores da sociedade.
Foi pensando no potencial transformador da tecnologia que surgiu o Tech for Good (tecnologia para o bem), movimento de pessoas que se propõem a pensar um futuro em que a tecnologia ajude a compor o caminho para mudanças positivas na sociedade. Em um período em que na palma da mão cabe quase toda informação sobre si e sobre outros, é aí também que podemos buscar soluções para problemáticas de hoje, do ontem e do amanhã.
Então começa nossa história…
O Social Good Brasil surgiu em 2012, trazendo para o país o movimento mundial Tech for Good, que na época falava do uso das novas mídias para o bem. Ao longo dos anos, o SGB, atento às tendências e também aos desafios do mundo, trouxe novamente outra temática importante para a agenda dos brasileiros, o Data for Good (dados para o bem).
Em 2021, o propósito do Social Good Brasil é democratizar a educação em dados no país, ou seja, levando a fluência em dados para todas as pessoas, tornando acessível e popular um idioma essencial para o mundo digital e para o futuro do trabalho. Para ajudar as pessoas a navegarem no oceano de dados, criamos uma jornada, baseada em nossa metodologia inovadora e exclusiva de Educação em Dados para pessoas, organizações e governos. Do primeiro contato de quem está aprendendo a nadar no mar até a experiência profunda de quem já navega bem nesse oceano de dados.
Confira nossa seleção de 7 iniciativas inspiradoras que aliam dados e impacto social
1. Transparência Covid-19
O ano de 2020 pegou todo mundo de surpresa. Diante da pandemia de Covid-19, consequentes crises, medidas sanitárias por vezes improvisadas, enfrentar o desconhecido foi um desafio global. Mas, mesmo após um ano de cenário pandêmico, dados sobre a ocupação dos leitos hospitalares e disponibilidade das UTIs no Brasil ainda não chegavam, o que dificulta – e até impede – a alocação de recursos e socorro para suprir a demanda, além de deixar no escuro a maior parte da população.
É nessa conjuntura que o portal Transparência Covid-19 aparece, em fevereiro de 2021, para divulgar “uma fotografia” diária de como nossos hospitais estão enfrentando a pandemia. O painel (parte da Open Knowledge Brasil*) reúne e trata os dados da API (Application Programming Interface, ou, em português, Interface de Programação de Aplicação) que passou a ser divulgada pelo Ministério da Saúde somente esse ano.
A iniciativa entra na lista como pioneira e combativa frente à desinformação, unindo tecnologia e humanidade para salvar vidas. No site da Transparência Covid-19 era possível acessar e baixar dados, relatórios e gráficos que fazem a cobertura da pandemia, da ocupação dos hospitais ao andamento da vacinação. O painel, que era atualizado todos os dias, aguarda a retomada da divulgação dos dados pelo Ministério da Saúde para voltar a sustentá-lo.
2. Amazônia Legal em dados
Um problema mais antigo que a pandemia. Uma solução que sempre reluta em chegar. O desmatamento da Amazônia é apenas um entre os obstáculos enfrentados pelos nove estados da Amazônia Legal. Os 5 milhões de quilômetros quadrados parecem menores quando falamos de políticas públicas: índices de segurança, saúde e educação são piores na região na comparação com as médias brasileiras. Esses e outros oito temas formam o painel de 113 indicadores liberados livremente pelo portal Amazônia Legal em Dados.
Fomentada pela iniciativa Concertação pela Amazônia, o site estuda a pluralidade da região que é enorme não só em tamanho, mas também esbanja extensão em cultura, população e em desafios próprios. A partir do entendimento, por meio de dados, das singularidades do Norte, a ferramenta oferece análises da última década e projeta indicadores até 2030.
Disponíveis a qualquer cidadão, as informações da Amazônia Legal em Dados ajudam governos, entes públicos, privados, filantrópicos e organizações a desenvolverem soluções reais e palpáveis para quase 30 milhões de pessoas da região e para tantas outras em todo o globo.
3. Elas no congresso
Ainda na linha do tempo, vamos voltar um pouco mais. Para entender a pauta da Elas no Congresso, retomamos anos de história – e também de luta – dos direitos da mulher. Se no papel chegou em 1822, a independência do Brasil tardou muito mais para a maior parte dos brasileiros e, especialmente, das brasileiras. Somente mais de cem anos depois, na década de 1930, mulheres conquistaram o direito ao voto no país. E precisamos de mais décadas e muito levantar de voz para resgatar direitos que são, acima de tudo, humanos.
Sabendo da importância de leis como a Maria da Penha, de 2006, e a Lei do Feminicídio, de 2015, a Revista AzMIna lança, no ano passado, a iniciativa para cobrar atuação real frente à temática. No site você confere o ranking de parlamentares de acordo com seu impacto e relevância para questões de gênero. Além disso, Elas no Congresso monitora, através de um robô no Twiiter, a tramitação de leis e divulga conteúdos sobre como o assunto está sendo tratado no poder legislativo.
Tudo isso usando dados. O projeto oferece toda a base de informações, a metodologia detalhada e o código fonte do bot, comprometido em difundir o conhecimento em tecnologias de maneira transparente e aberta para provocar ainda mais impacto social.
4. CIEB
O CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira), como seu nome evidencia, é uma organização que se propõe, desde 2016, a resolver defasagens históricas da educação do nosso país usando tecnologias voltadas para o bem. O centro estuda metodologias e fomenta o uso de ferramentas tecnológicas visando a impactar positivamente alunos e professores. Em um momento em que o ensino remoto ganhou destaque no “novo normal”, fica clara a necessidade de saber usar os recursos como aliados na experiência educacional, mesmo após esse período.
Sem fins lucrativos, a associação opera realizando diagnósticos da educação no país, do uso de tecnologias por docentes e discentes e da infraestrutura de escolas públicas e privadas. A partir desses dados, estuda e confecciona soluções usando tecnologias. São guias, diretrizes e referências sobre a aplicação adequada das ferramentas, abertos para download no site.
Em 2019, o CIEB contribuiu para a Base Nacional Docente (BND) e prestou apoio técnico à Secretaria de Educação de São Paulo, norteados pelo conhecimento tecnológico para tomadas de decisão com maiores chances de sucesso.
5. Open Data Index
Dados abertos são o primeiro passo para a difusão da informação e a porta para a transparência. Contudo, a dificuldade em catalogá-los e a sua enorme quantidade podem distanciar o objetivo: promover acesso. Por isso, o Índice da Dados Abertos, ou Open Data Index, foi criado, através da parceria entre a Open Knowledge Brasil e a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-DAPP)
O projeto coleta e avalia dados de governos e municípios, construindo indicadores que façam sentido na lógica de cada um deles. Assim, é possível enxergar o cenário com clareza e tomar decisões mais precisas para solucionar questões tangentes a logística, educação, saúde e segurança. O portal busca unir o melhor da informação ao melhor de gestores e cidadãos.
6. Atados
Um match entre voluntários e organizações de impacto. A proposta da plataforma Atados é criar uma rede de iniciativas em causas sociais. Mais que ajudar ONGs a encontrar suas demandas e buscar pessoas interessadas em trabalhar em cima delas, Atados disponibiliza materiais e conteúdos e promove encontros que fortaleçam a rede.
Usando a tecnologia para impactar positivamente causas e grupos sociais, a plataforma fomenta e facilita que projetos para o bem surjam em todo o país. Os dados coletados ao longo de cada projeto são usados para aprimorar outros, abrindo possibilidades de planos de impacto socioambiental. No site, você pode encontrar causas de seu interesse, se voluntariar e cadastrar sua ONG para se conectar à rede.
7. Fa.vela
O hub é lançado ao mundo para navegar: fa.vela surgiu por entender a importância e a necessidade de promover educação. A organização mineira existe desde 2014 e atua no setor 2.5 – é um negócio de impacto social. É uma rede liderada por empreendedoras e empreendedores que atua para a erradicação da pobreza e educação de qualidade, dois dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Feito por e para negros/as, LGBTs e pessoas periféricas, fa.vela já impactou mais de 10 mil vidas. Corres como perifa60+ e morrobótica promovem tecnologia e educação para mudar a história de pessoas em vulnerabilidade social. Perifa60 é o programa que oferece aprendizado em habilidades digitais para a população periférica, negra e LGBT acima de 60 anos. Morrobótica atua na formação de jovens para o futuro da era tech, com letramento tecnológico e competência empreendedora. Fa.vela é movida por ventos de um impacto gigante.
Bônus: Open Knowledge Brasil
Chegamos ao final da lista deixando um bônus a quem quiser conhecer mais dos movimentos pela difusão do conhecimento de dados no Brasil, além do Social Good Brasil, que oferece formações e eventos para educação em dados, o Data for Good e nossos quatro cases.
Em operação desde 2013, a Open Knowledge Brasil, ou Rede pelo Conhecimento Livre, é uma Organização da Sociedade Civil (OSC) fundada para promover a relação de pessoas com as tecnologias. A OKBR abre para livre acesso dados e códigos fonte, incentivando transparência e alcance.
Lembra do Transparência Covid-19, do começo do artigo? Ele é parte do escopo da OKBR, selo que você encontra ao final da página do painel e de todos os projetos ligados à organização. A missão é ativar pessoas e ideias para causar impacto social através do conhecimento e dos dados.
Vale a pena conhecer a Operação Serenata de Amor (confira sua participação no Festival SGB em 2017), projeto que usa ciência de dados para fiscalizar gastos públicos, e a Escola de Dados, programa voltado à alfabetização de dados para o jornalismo, movimentos e agentes públicos – e a quem mais se interessar.
Um oceano profundo: mergulhar é preciso
Os dados estão por toda parte, produzimos uma quantidade enorme deles o tempo inteiro, e eles podem ser usados para gerar impacto social. Mesmo assim, é comum aparecer um receio frente a esse desconhecido que é o oceano de dados, de linguagens, de informações. Muita gente se sente intimidada e não se arrisca a lidar com eles: pode ser medo de não saber manusear ou desconfiança com a falta de proteção e privacidade.
É preciso expandir a visão sobre dados. Se por um lado muito ouvimos falar em vazamentos de informações e o uso arbitrário de nossas preferências pessoais, a compreensão e a consciência de como evitá-los vem ganhando debates no mundo todo. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e iniciativas difusoras de informação consciente combatem sua manipulação indevida.
Garantir ética, proteção e privacidade e utilizar dados e tecnologia para gerar impacto positivo são competências que o SGB acredita serem essenciais para o futuro. Conheça essas e outras habilidades que apontam para um amanhã em que o oceano dos dados seja cada vez mais navegável.
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