Aprenda a usar dados para criar negócios de impacto social

Cocriação de Camila Ignacio e Maria Queiroz* Você pode não saber, mas, provavelmente, conhece e até consome produtos e/ou serviços de negócios de impacto social. Uma empresa que busca causar impacto social tem entre suas missões, para além do lucro, promover mudanças na sociedade, principalmente com ações voltadas para as classes C, D e E. Além disso, inclui princípios de sustentabilidade, o que engloba o meio ambiente. Essas empresas podem atuar em vários campos, como educação, saúde, moradia, saneamento básico, energia, tecnologia, agricultura e por aí vai. Mas você sabe como os dados podem ajudar a criar e a direcionar um negócio que visa impactar socialmente a vida de outras pessoas? Continue aqui que a gente ensina.

O que são negócios de impacto social?

Se você já comprou produtos de empresas como Natura, Terra Viva, O Boticário e Magazine Luiza, você já consumiu produtos que geram impacto social. Produzir menos lixo, repensar processos de fabricação, investir em ações afirmativas de contratação e permanência ou na valorização de funcionários são apenas algumas formas que as empresas citadas acima encontraram para impactar a sociedade positivamente. Mas não são apenas grandes empresas que podem investir em negócios de impacto social. Qualquer empreendedor pode fazê-lo, basta querer. Por exemplo, se você tem uma marca de roupas autorais e segue um modelo slow fashion de produção, você já está causando impacto social.

Qual a importância dessas iniciativas?

A discussão de qual é o papel das grandes empresas e figuras públicas na vida das pessoas tem ganhado outras proporções e nuances nos últimos anos. A todo momento, ao entrar, por exemplo, no twitter, você vê vários usuários pedindo por posicionamentos, retratações ou elogiando posturas de que possuem grande alcance. Isso tem se tornado tão comum que, em uma pesquisa feita pela WMcCann, 46% das pessoas esperam impacto social das marcas que apoiam, principalmente no que diz respeito à educação e combate à pobreza. Logo, a antiga estratégia de se manter neutro e em silêncio até que esqueçam polêmicas envolvendo o nome da pessoa ou organização já não funciona mais. Portanto, é preciso ir além do impacto a uma comunidade e/ou ao meio ambiente do local onde está situado. É importante ter uma posição atuante e sensível no que diz respeito à responsabilidade social que ainda agrega valor a sua marca.

O que os dados têm a ver com impacto social e por que usá-los na hora de criar um negócio nesse modelo?

Vamos imaginar que uma jovem brasileira teve fotos íntimas vazadas na internet. No momento em que está passando pelo constrangimento de ser vítima de “pornô de vingança”, ela recebe uma mensagem por inbox de outra garota, de 21 anos, chamada Fabi Grossi. Fabi quer ajudá-la com orientações importantes de como denunciar o crime. E se, ainda assim, você não entendeu o que os dados têm a ver com essa história, nós respondemos: tudo, pois Fabi Grossi é um chatbot!  Criado pelas organizações Unicef e Facebook, o bot capta dados das redes sociais, reconhece e encontra vítimas de imagens vazadas e passa instruções roteirizadas por especialistas da área. O resultado é tão perfeito que as pessoas atendidas poucas vezes percebem que estão conversando com um robô. Essa é uma iniciativa, entre tantas outras, que utilizam dados para impacto social. Por isso, fazer a leitura e interpretação de dados é essencial para criar um negócio dentro desse modelo. Entender quais são as carências sociais, as demandas públicas e possíveis maneiras de sanar problemas é apenas o início de todo o planejamento para que essa iniciativa seja positiva e autossustentável. Para te ajudar nessa tarefa, faça uma medição de impacto social. Com ela você saberá o que precisa ser mudado, como auxiliar a comunidade e por onde você pode começar. Se você não sabe como fazer isso, aqui vai o passo a passo:

Construa sua Teoria de Mudança

Neste ponto, é preciso fazer uma reflexão de por que e para que a organização existe. Assim que essas questões forem sanadas, construa sua Teoria de Mudança alinhando os objetivos da organização com o impacto socioambiental desejado. Após essa etapa, defina um plano de ações e qual o alcance terá. Preveja nesse plano de ações ferramentas, cronogramas, capital humano e tudo que será necessário para a realização das atividades.

Defina os objetivos

Dizer para definir objetivos pode ser meio generalista para quem não sabe por onde começar, certo? Então se apegue aos seguintes questionamentos: qual a necessidade de mensurar e analisar o impacto social; para quem você irá prestar contas dessa avaliação; o que será levado em conta nessa avaliação. Ao responder estas questões, você saberá quais objetivos estão traçados e poderá planejar como alcançá-los.

Defina indicadores de avaliação.

Esses indicadores te dirão quem é o público que deverá ser impactado e quais são suas demandas. Esses indicadores podem ser tanto qualitativos quanto quantitativos. Por exemplo, a cada 100 crianças que chegam ao ensino médio, 10 acabam saindo da escola antes que possam concluir essa nova fase dos estudos. Isso equivale a um indicador quantitativo de evasão escolar, com percentual de 10%. É através de dados como estes que será possível mensurar quais são as demandas a serem atendidas ou, até mesmo, o alcance do seu impacto pós-ações.

Defina um plano de medição

As etapas anteriores eram apenas o início do seu projeto em prática. A partir daqui, será preciso um planejamento mais detalhado para prosseguir. Um plano de medição serve para te deixar a par da situação atual antes que você possa realizar as primeiras ações de impacto. Existem muitos fatores que podem constar nesse plano, porém os itens a seguir são essenciais para uma planejamento pleno:

Métricas e análise

Aqui, além da aplicação do plano de medição, é necessário fazer a análise de impacto. Para isso, você precisará elaborar um fluxo de análise, que servirá para identificar se os resultados de atividade e avaliar se esses resultados estão de acordo com os objetivos traçados inicialmente. Ainda dentro dessa análise, é preciso avaliar o custo benefício das ações e do retorno e se os resultados são duradouros. Ao final, se as respostas forem positivas, este é um projeto para se orgulhar e levar adiante.

Monitoramento e divulgação

O monitoramento é mais uma etapa que condiz com as anteriores. Nele, você terá que fazer um acompanhamento das ações para ter certeza de que tudo está correndo como planejado, o que pode ser melhorado nas próximas etapas e o que pode ser descartado. Já na divulgação, como o próprio nome diz, você poderá divulgar os resultados das ações dentro e fora da sua organização, de acordo com o que foi planejado anteriormente. Essa divulgação pode ser através de relatórios, demonstrativos, apresentações para gestores, dentre outras formas que você considerar válidas.

Metodologia para planejar sua iniciativa baseada em dados

A cientista de dados Maria Queiroz criou uma metodologia para planejar iniciativas que se baseiam em dados para proporcionar mudanças sociais. Para isso, a estrutura de uma árvore é usada para construir o planejamento:

Raiz

As perguntas a serem feitas aqui são: de onde vamos tirar os dados? Qual sistema? Quando falamos em dados, existe um processo de extração, geralmente chamado de ETL (extração, transformação e carregamento), que é a raiz de quem cria uma iniciativa de data for good. Para as árvores, a raiz significa receber os nutrientes do solo. Dados são como alimentos e precisam ser extraídos da terra, no caso, os sistemas.

Tronco

Aqui é onde os dados são tratados, filtrados e ordenados. Por ser o intermediário entre a raiz e as folhas, é pelo tronco que a seiva bruta passa. Logo, sua função com os dados é: limpar, organizar, classificar. Ou seja, é responsável pela preparação dos dados brutos para a próxima etapa do processo.

Folhas

Nas folhas é onde encontramos o material de contemplação do planejamento: imagens, gráficos, correlações, indicadores. Geralmente, nesta etapa do processo, os dados são dispostos em painéis para melhor visualização.

Frutos

Bons frutos são uma consequência dos cuidados anteriores. Isso é válido para plantas e dados. Nessa metodologia, os frutos são o produto final. O cuidado prévio com os dados, para empresas, pode significar a redução de custos, aumento de vendas ou a noção total do cenário ao seu redor. Se você deseja construir a sua própria árvore, você pode seguir esse modelo.

5 dicas para criar negócios de impacto social a partir de dados

Você já entendeu a importância dos negócios de impacto social na sociedade. Agora, saiba que você também pode fazer parte dessa mudança. Ou seja, também é capaz de aprender mais sobre análise de dados para criar o seu negócio.
  1. Invista em educação em dados – busque saber mais sobre esse idioma antes de tomar qualquer decisão estratégica.
  2. Identifique o seu objetivo – o que você quer mudar na sociedade? Qual a área que você quer trabalhar? Saúde, meio ambiente, educação…? Defina.
  3. Comece a planejar o seu modelo de negócio – você já sabe qual sua área, mas como será a sua empresa? Quem ela irá atender e como?
  4. Não tenha medo de errar – entenda que, às vezes, a tentativa e erro é a sua oportunidade de aprender o que pode e o que não pode ser feito ou mudado, mas não deixe que o erro impeça você de recomeçar.
  5. Valide suas hipóteses na prática – interagir com o público que você deseja impactar é essencial para entender suas dores, suas demandas e, por que não, seus gostos. Mantenha-se sempre em contato com essas pessoas, valide suas ideias para ter certeza de que está no caminho certo.

Use os dados de maneira positiva (data for good)

Como você já sabe, nós aqui do SGB sempre destacamos a importância dos dados para construir um futuro de novas oportunidades e maior qualidade de vida para todos. Por isso, fomos um dos promotores do movimento Data for good no Brasil. De uma maneira resumida,  “dados para o bem”tem como intuito estimular o uso de dados disponíveis para causar impacto e mudança social. Um exemplo de como isso funciona na prática é o Censo, realizado pelo IBGE a cada 10 anos. Os dados populacionais coletados durante o período de pesquisa são armazenados na base de dados do governo e é a partir deles que as gestões federais, estaduais e municipais podem planejar suas ações na saúde, educação, saneamento básico, etc. E aí? Vamos nos mobilizar e gerar impacto na vida de outras pessoas? Para colocar o Data for good em prática você precisa ser fluente em dados. Você sabe qual é o seu nível de fluência nesse idioma? Aqui no SGB, temos uma ferramenta de autoavaliação, assim você pode descobrir o quanto de conhecimento possui e já aproveitar nossa plataforma para começar a estudar mais sobre dados e pensar em ideias de negócios de impacto social.

Leia também

15 setembro 2023
O Festival Social Good Brasil 2023 já tem data marcada e local confirmado para acontecer neste ano...
Ler Mais
08 setembro 2023
Com a enorme quantidade de dados sendo gerados diariamente por todas as pessoas de uma organização,...
Ler Mais
01 setembro 2023
Todos os dias, em todas as profissões e funções existentes no mercado de trabalho, de alguma forma...
Ler Mais
25 julho 2023
Cocriação de Camila Ignacio e Maria Queiroz* Você pode não saber, mas, provavelmente, conhece e...
Ler Mais
25 julho 2023
As eleições no Brasil tem uma longa história, que começa muito antes da criação da urna eletrônica...
Ler Mais

Leia também

Aprenda a usar dados para criar negócios de impacto social
Data for good: como o uso de dados pode impactar socialmente
O que você precisa entender sobre dados para se tornar uma organização data driven
Como desenvolver a mentalidade analítica em pessoas e organizações

1 comentário

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios estão marcados *

Postar Comentário

Orgulhosamente desenvolvido por:

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support