Como os dados podem ajudar a solucionar problemas em favelas

A empresa Diagonal Transformação de Territórios utiliza a ciência de dados para melhorar a qualidade de vida de comunidades de baixa renda e seus territórios
 
Os terrenos em que construímos nossas moradias, as casas em que vivemos nossas lembranças e a comunidade com a qual dividimos nossas histórias constituem o território ao qual pertencemos. Uma importante peça na formação da identidade, os territórios e comunidades onde milhares de pessoas de baixa renda habitam no Brasil enfrentam problemas sociais, jurídicos, ambientais e urbanísticos. Para solucionar as dificuldades enfrentadas no cotidiano dos moradores e transformar positivamente territórios, surgiu a Diagonal.
A Diagonal é uma empresa de consultoria para diversos setores da economia, governos e instituições do terceiro setor, que tem como objetivo encontrar soluções para influenciar e implantar políticas públicas e de sustentabilidade em territórios. A organização atende, por exemplo, projetos em favelas e comunidades em áreas de risco. Neles, ela procura entender as pessoas e famílias que habitam a região da intervenção, cria laços de adesão e confiança e busca desenvolver seus projetos personalizados para impactar de maneira positiva e com poucos conflitos.
A Diagonal esteve com o Social Good Brasil no SingularityU Brasil Summit para discutir o uso das tecnologias exponenciais para impacto social. Mas qual é a relação entre a Diagonal e o SGB? Como líderes do Movimento Data for Good no Brasil, nós acreditamos que o Big Data pode ser usado para orientar o impacto social positivo. Quer saber como funciona o data science da Diagonal para transformar territórios?

A ciência de dados na Diagonal

A Diagonal, desde sua criação, buscou aplicar as melhores tecnologias disponíveis em vários setores do mercado para o setor social, buscando aumentar o alcance e efetividades de suas ações na melhora da qualidade de vida da população de baixa renda. No seu primeiro trabalho, realizado em uma favela de Pernambuco no início dos anos 90, os diagnósticos das famílias eram feitos através de digitalização de questionários, que teriam as informações cruzadas para análises de dados. “Dessa forma, já em 1990, foi possível inovar associando essa base cartográfica ao banco de dados da pesquisa censitária permitindo atender às exigências administrativas e técnicas da regularização fundiária”, diz a cofundadora da Diagonal, Kátia Mello.
As regiões que sofriam com a escassez de dados e informações puderam, então, ter uma inteligência de dados para guiar as ações sociais. E a cada avanço tecnológico, a Diagonal dava mais um passo para aperfeiçoar seu sistema de coleta e análise. De acordo com Kátia, “o Sistema de Pesquisa atual – coleta e análise de dados – está integrado ao Sistema de Gestão da Informação da Diagonal, plataforma de controle, gestão e integração de dados que vem sendo aprimorada ao longo dos anos. Consolida uma vasta e diversificada base de informações sobre famílias e comunidades de baixa renda”.
Os dados obtidos para fazer o diagnóstico das famílias e dos territórios são quantitativos e qualitativos. Os dados quantitativos são obtidos de fontes secundárias e primárias. Para os dados qualitativos a empresa faz pesquisas exploratórias, grupos focais, entrevistas em profundidade e mapas falados. “Com o preenchimento dos questionários, online ou off-line, a depender do acesso do território à internet, automaticamente os dados são inseridos em um banco de dados estruturado, apresentando de imediato os resultados em gráficos, tabelas e relatórios, permitindo gerar inúmeros cruzamentos de dados para uma análise integrada precisa”, explica Kátia Mello.

O primeiro programa federal de urbanização de favelas do Brasil

A Diagonal viabilizou a aplicação do instituto do usucapião urbano coletivo nas favelas de Jaboatão de Guararapes – PE, em 1990. Várias favelas do município eram ocupações com mais de 5 anos em áreas privadas sem Ação de Reintegração de Posse e, de acordo com a Constituição de 1988, poderiam utilizar o usucapião. Após o primeiro sucesso, foi possível viabilizar o instrumento para vários territórios. De acordo com a Diagonal, três fatores são decisivos para o sucesso das ações:
1) a vontade política da prefeitura em atender àquela população carente;
2) a participação efetiva e o engajamento da população em todas as fases do trabalho;
3) o uso das melhores tecnologias disponíveis na época;
O desafio seguinte foi viabilizar o primeiro programa federal de urbanização de favelas do Brasil. No município de Santo André, em São Paulo, a Diagonal foi contratada para fazer o processo de urbanização da favela Tamarutaca, onde na época viviam 1200 famílias em uma área de solo frágil de alto adensamento.
“Naquela época urbanizar favelas ainda era raro, a opção principal era a desocupação das áreas e a transferência das famílias para conjuntos habitacionais distantes dos centros”, explica Kátia. “Colocamos o nosso propósito no debate com todos envolvidos e conseguimos uma enorme adesão. Foi um ano de muito trabalho, desenvolvemos o projeto em conjunto com uma comissão eleita pela comunidade, conhecemos cada uma das 1200 famílias, construímos com eles os projetos, conseguimos o reparcelamento das áreas e saneamento para todos. Enfim, realizamos o sonho da urbanização com participação, num tempo curto e com um custo baixo e alto nível de satisfação. Virou referência”, completa.

Tecnologias exponenciais para impacto social

Atualmente, a Diagonal busca nas tecnologias exponenciais ferramentas para solucionar os grandes desafios globais, como a desigualdade social, erradicação da pobreza, fome, entre outros.
“Promovemos encontros internos para discussão com nossos colaboradores sobre os potenciais dessas tecnologias e a importância da co-criação de soluções que efetivamente gerem impactos positivos para a nossa sociedade e nosso planeta. Acreditamos que os dados que coletamos, interpretamos e consolidamos em todos esses anos sobre as classes D e E e sobre os territórios que elas vivem, são uma fonte preciosa para ajudar a resolvermos os grandes desafios atuais e que enfrentaremos neste século”, diz a cofundadora da Diagonal.

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